Às vezes você deve se perguntar como aqueles guitarristas que você gosta criam seus solos, improvisam, compõem riffs e melodias. “Como eles escolhem as notas certas?” E a resposta é: eles utilizam escalas e arpejos que possuem alguma relação com a harmonia. E aqui vou falar da escala mais popular entre os guitarristas. Sim, você provavelmente já ouviu falar dela: a escala pentatônica!
Muitíssimo utilizada no blues e no rock ela também é usada no jazz, country, entre outros estilos. Esse artigo é dedicado ao tipo mais conhecido: escala pentatônica menor 7 ou pentatônica m7, ou ainda, penta m7.
Então continue lendo para aprender:
- Como tocá-la por todo o braço da guitarra;
- Como tocá-la em diferentes tons;
- 2 padrões que irão ajudar você a se familiarizar com os shapes da pentatônica;
- 4 exercícios para te ajudar na fluência por todo o braço;
- As aplicações mais comuns;
- 7 exemplos de como grandes guitarristas utilizaram a pentatônica menor 7 em seus solos (tablatura + áudio).
Atenção: Este artigo tem como foco a prática. Para entender a origem desta escala, seus intervalos e detalhes mais específicos, recomendo que você assista as vídeo-aulas 50 e 51 do curso de guitarra do Music Clan.
Vamos lá?
A pentatônica menor 7 pelo braço da guitarra
Você já deve ter ouvido a palavra shape ou desenho em alguma aula ou vídeo de guitarra, certo?
É importante saber que um shape não é uma escala, e sim uma forma de organizar as notas de uma escala em determinada região do braço da guitarra. Só isso. As notas da escala estão por todo o braço e o shape é uma forma de você memorizá-las mais facilmente, por região, ótima para fins didáticos.
Sabendo disso, vamos explorar a pentatônica m7 de A (nosso exemplo) pelo braço.
Se você já estudou a parte teórica, sabe que esta escala é formada pelas notas Lá, Dó, Ré, Mi e Sol. Mas como tocar isso no braço? Na teoria é simples: Basta você achar estas notas pelo braço.
Assustou? Calma, agora entram os shapes. =)
A pentatônica de Am7 tem 5 notas, certo? Lá, Dó, Ré, Mi e Sol. Então teremos cinco shapes. Cada um iniciando com uma das notas.
Como visualizar os shapes da pentatônica menor?
Primeiro, é importante que você saiba, em cada um desses desenhos, onde está a tônica (nesse caso, a nota Lá). Portanto, fique de olho nas notas cor-de-rosa! 😉
Depois que você for se familiarizando, preste atenção e memorize onde estão os outros intervalos da penta m7 no shape. Por exemplo, você vai perceber que sempre antes da tônica, está a sétima e, sempre depois da tônica, está a terça menor, etc.
É importante também que você saiba a relação/distância entre os desenhos da pentatônica. Por isso, além de mostrar o shape, optei por deixar as outras notas de forma menos destacada por todo o braços, para que você saiba o que vem antes e o que vem depois de cada um.
Observação:
- T = Tônica;
- b3 = Terça menor;
- 4 = Quarta justa;
- 5 = Quinta justa;
- 7 = Sétima menor.
Os cinco shapes da escala pentatônica menor 7
Então vamos agora aos cinco shapes da penta m7:
1 – Iniciando da tônica (Lá)
2 – Iniciando da terça menor (Dó)
3 – Iniciando da quarta justa (Ré)
4 – Iniciando da quinta justa (Mi)
5 – Iniciando da sétima menor (Sol)
Preciso mesmo memorizar os cinco desenhos da pentatônica?
Não. Porém, saber a escala por todo o braço fará com que você tenha maior liberdade de ir e vir e pode evitar muitas “travadas” no seu solo por você não saber onde estão as notas da escala em determinada região. Os shapes são uma boa ferramenta para isso.
Isso não quer dizer que você tenha que, de fato, usar todas as notas por todo o braço. A escolha das notas é apenas uma das coisas com a qual você tem que se preocupar ao fazer um solo. Ritmos e motivos são também muito importantes.
A penta menor 7 em outros tons
Apesar de ser importante você saber quais são as notas que formam a escala que você irá tocar, na prática, para tocar a pentatônica menor 7 em outros tons, basta você deslocar os shapes. Pegue a tônica como referência e mova os desenhos para as outras casas.
Por exemplo: se você quer tocar a pentatônica de Gm7, basta você deslocar todos os shapes 1 tom abaixo (duas casas). Veja:
Se você quer tocar a pentatônica de Cm7, basta você deslocar os shapes 1 tom e meio acima (três casas). E assim por diante.
Familiarizando-se com a pentatônica menor
Padrões
Existem inúmeros padrões para se aplicar sobre a pentatônica m7, mas vou passar aqui 2 padrões básicos que vão ajudar você a se acostumar com os shapes da escala.
Aplique-os nos 5 desenhos.
1) Padrão sobre a pentatônica de 4 em 4 notas
Imagine que a vamos aplicar o padrão sobre uma seqüência de números: 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10. Este primeiro padrão seria aplicado assim: 1 2 3 4 / 2 3 4 5 / 3 4 5 6 / 4 5 6 7 / 5 6 7 8 …
O mesmo se aplica às notas da escala. Primeiro você toca as 4 primeiras notas. Depois, você toca quatro notas partindo da segunda. Depois, quatro notas partindo da terceira, e assim por diante. Ouça o som e veja a tablatura abaixo:
Padrão 1 (60 bpm)
Padrão 1 (110 bpm)
2) Padrão sobre a pentatônica de 3 em 3 cordas
Funciona basicamente da mesma maneira, mas ao invés de pensar em notas, você pensa em grupos de 3 cordas.
Ouça o som e veja a tablatura abaixo:
Padrão 2 (80 bpm)
Padrão 2 (160 bpm)
Exercícios para fluência
Estes quatro exercícios são bons para que você comece a transitar entre os desenhos.
1) Comece subindo pelo desenho 1 e volte pelo 2, suba pelo 3 e volte pelo 4…
Ouça e veja a tablatura:
Agora comece descendo pelo desenho 1 e suba pelo 2, desça pelo 3 e volte pelo 4… (O contrário).
2) Neste você vai subindo pela diagonal, transitando entre os shapes.
Ouça e veja a tablatura:
3) Neste exercício você deve pegar grupos de duas cordas adjacentes e tocar as notas da seguinte forma:
Pegue os grupos de cordas 2 e 3 / 3 e 4 / 4 e 5 / 5 e 6 e faça o mesmo.
Que tal fazer com slide e ligados?
4) Além de melhorar a visualização da escala no braço, este exercício é muito bom para o ouvido também. Você deve tocar a escala pentatônica indo e voltando em apenas 1 corda:
Faça isso em todas as cordas e troque a ordem das notas. Você começará a ficar mais livre pelo braço.
Eleve o seu nível na guitarra a partir de hoje!
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Aplicações mais comuns da pentatônica menor 7
1) Pentatônica m7 no tom da música.
Se a música está no tom de Am, você pode aplicar a pentatônica de Am7 (exatamente essa que vimos durante todo o post). Se estiver no tom de F#m, você pode aplicar a pentatônica de F#m7. E assim por diante.
Se você já estudou tons relativos, sabe que se a música estiver em C, você pode aplicar a pentatônica de Am7. Se estiver em A, você pode aplicar a pentatônica de F#m7.
2) Pentatônica m7 sobre o blues maior.
Se você for solar sobre um blues maior, em E por exemplo, pode aplicar a escala pentatônica de Em7 durante toda a progressão.
Parece um pouco esquisita a ideia de aplicar uma escala menor sobre o mesmo tom maior, mas esta é uma das características do blues.
Experimente tocar a escala de Em7 sobre essa base:
https://www.youtube.com/watch?v=fcxx0L4p4gw
3) Pentatônica m7 sobre o blues menor.
Se você for solar sobre um blues menor, em Bm por exemplo, pode aplicar a escala pentatônica de Bm7 durante toda a progressão.
Experimente tocar a escala pentatônica de Bm7 sobre “The Thrill Is Gone”, do B.B. King.
Muito bem! Agora confira 7 licks de pentatônica menor 7 para saber como grandes guitarristas como David Gilmour, Jimi Hendrix, John Mayer, Julian Lage, entre outros utilizaram esta escala.
7 licks de grandes guitarristas utilizando a pentatônica menor 7.
1) Another Brick in the Wall, Pt. 2 – Pink Floyd (Guitarrista: David Gilmour)
Álbum – The Wall, 1979.
Momento do lick na música – 2:09.
Pentatônica – Dm7.
Shape – 1
Ouça o lick e veja a tablatura:
2) The Thrill Is Gone – B.B. King
Álbum – Anthology, 2004.
Momento do lick na música – 0:01.
Pentatônica – Bm7.
Shape – 1.
Ouça o lick e veja a tablatura:
3) Crosstown Traffic – Jimi Hendrix
Álbum – Electric Ladyland, 1968.
Momento do lick na música – 0:04.
Pentatônica – Cm7.
Shape – 1.
Ouça o lick e veja a tablatura:
4) Belief – John Mayer
Álbum – Continuum, 2006.
Momento do lick na música – 2:27.
Pentatônica – Dm7.
Shapes – 2, 1, 5.
Ouça o lick e veja a tablatura:
5) One Day – Eric Clapton
Álbum – Back Home, 2005.
Momento do lick na música – 2:43.
Pentatônica – Bm7.
Shapes – 2, 1.
Ouça o lick e veja a tablatura:
6) Nocturne – Julian Lage
Álbum – Arclight, 2016.
Momento do lick na música – 1:13.
Pentatônica – Bbm7.
Shapes – 2, 3.
Ouça o lick e veja a tablatura:
7) S.R.V. – Eric Johnson
Álbum – Venus Isle, 1996.
Momento do lick na música – 1:15.
Pentatônica – C#m7.
Shapes – 1.
Ouça o lick e veja a tablatura:
Concluindo
Uma coisa que sempre falo para os meus alunos é que acho incrível o como uma mesma escala de 5 notas pode soar tão diferente quando interpretada pelos mais diversos guitarristas.
Quando a gente pensa que essa escala é exatamente a mesma que o Jeff Beck utiliza em suas músicas, por exemplo, vimos que temos muito o que aprender.
Agora fica um ponto para discussão. Dos 7 licks, 6 deles utilizam o desenho 1, 3 utilizam o desenho 2, 1 utiliza o desenho 3 e 1 utiliza o desenho 5. Nenhum deles utiliza o desenho 4 (o que não quer dizer que ninguém o usa). Isso não foi proposital. Simplesmente peguei 7 licks de 7 guitarristas diferentes e só depois percebi isso. Será coincidência?
Será que eles pensam em shapes? Eu acho que não. Sabe aquela história de que primeiro você tem que aprender para depois desaprender? Então… para mim, os shapes são uma ótima forma de você se familiarizar com uma escala, do ponto de vista didático. Mas a intenção deve ser de se libertar disso no futuro. Até lá, existe uma boa caminhada.
Coloque o que você acha aqui em baixo nos comentários a respeito disso!