Introdução

Todo músico, que constrói uma carreira sólida no decorrer de sua vida, encontrou sua própria identidade musical, ou seja, encontrou um jeito único de tocar, que só ele tem.

Um sério risco que muitos de nós (músicos) corremos em nosso aprendizado é o de soarmos exatamente igual a outros guitarristas.

Até uma certa etapa do nosso aprendizado, isso não é algo ruim. 

Quem não quer tocar perfeitamente como o Steve Vai, improvisar lindamente como o Scott Henderson ou construir temas maravilhosos como o Mateus Asato?

Um ouvido minimamente treinado irá reconhecer esses caras tocando só de ouvir, sem necessariamente ver sua imagem, e é isso que coloca esses caras em outro patamar. Como diz um amigo meu: “Os coloca na prateleira de cima da música!”

Mas se isso é tão importante para meu desenvolvimento como músico, o que posso fazer para alcançar esse objetivo?

A jornada pode ser um pouco longa, mas se tivermos direcionamento, podemos encontrar a nossa identidade musical na guitarra.

Vamos então às 6 formas efetivas para você encontrar sua identidade musical na guitarra:

01 – Aprenda a tocar tudo o que agradar seus ouvidos

Uma das coisas que te fazem um músico único são as suas experiências musicais, a começar pelo que você ouve.

Com certeza, as suas 30 músicas preferidas, são diferentes das 30 músicas preferidas de seus familiares.

Ninguém nesse mundo ouve exatamente o que você ouve, com a mesma frequência que você ouve. E aqui podemos falar de tudo relacionado a música, como trilhas, jingles, música de elevador, etc. 

Esse conjunto de melodias e harmonias que agradam seus ouvidos são SUAS referências musicais.

A minha dica aqui é, se possível, APRENDA A TOCAR tudo o que agrada seus ouvidos, sem preconceitos!

Desde a abertura de uma série, a música de um desenho animado, o jingle do Guaraná, até aquele pagode que você não admite, mas gosta, e claro, os clássicos do seu instrumento.

Eu tenho certeza que ninguém no mundo tem exatamente o mesmo grupo de referências que você tem. Portanto, conheça-as e aprenda-as.

02 – Domine os fundamentos 

Apesar de os estilos serem diversos, os fundamentos musicais, como intervalos, escalas e ritmos, são os mesmos.

Quando você aprende e pratica uma escala pentatônica, por exemplo, você será capaz de tocá-la em diferentes tons e com diferentes ritmos, mas esse será apenas o primeiro passo. 

As possibilidades de aplicação de uma escala são infinitas, e por mais que seja difícil fazer algo totalmente novo com ela, você pode encontrar o seu jeito de tocá-la, e criar o seu próprio vocabulário de licks.

Mas para isso, tudo o que é fundamental e básico deve ser dominado.

Esse mesmo exemplo serve para acordes, ritmos, técnicas, etc… 

Quanto antes você dominar os fundamentos, melhor!

Leia na Guitarload: Eric Johnson cita as duas técnicas que formam a identidade de um guitarrista

03 – Aprenda músicas de outros instrumentos

Estudar solos de guitarra é algo fascinante! Existem milhares deles disponíveis para aprendermos e, sim, isso é extremamente necessário.

Mas se pararmos um pouco para pensar, vamos lembrar que a guitarra é apenas uma dentre centenas de instrumentos existentes.

Se você já ouviu com atenção um solo do Miles Davis no trompete, por exemplo, vai concordar comigo que tem muita riqueza ali.

Um guitarrista que procura desenvolver uma identidade musical na guitarra, deve aprender músicas e solos de saxofonistas, trompetistas, flautistas, pianistas e, por que não, tirar melodias vocais também (ouça o Derek Trucks tocando e perceba como em alguns momentos a guitarra dele soa como a voz de uma cantora de blues).

Portanto, apesar de o universo guitarrístico ser riquíssimo, ouça também, com atenção, o som de outros instrumentistas e cantores, e aprenda com eles!

04 – Dedique um tempo para desenvolver a criatividade

Muitas pessoas acham que não têm criatividade.

Mas, criatividade é algo que pode ser estudado, treinado e desenvolvido.

Em uma de suas entrevistas, o grande Eddie Van Halen disse que ficava olhando para guitarra e se perguntando: “O que mais ela pode fazer?”

Pois bem, veja no que essa pergunta resultou:

Quando passamos tempo tocando e exercitando os fundamentos, naturalmente as ideias surgem.

Muitas vezes, quando se está tocando novos acordes, uma ideia surge para uma nova música. Ou, você pode estar “brincando” com seus pedais e descobrir um jeito inusitado de encadear os efeitos.

Você pode até descobrir um jeito de tocar a pentatônica com cordas soltas e criar um riff interessantíssimos.

Guitarristas que buscam uma identidade musical, dedicam um bom tempo na criação.

05 – Faça experimentos

Fazer experiências na guitarra não irá pôr ninguém em risco. Se você for um motorista de ônibus e quiser dirigir com os pés ao invés das mãos não poderá dizer o mesmo…

Tente, por exemplo, afinar a guitarra de uma maneira inusitada e fazer música com isso.

Você também pode tentar criar diferentes efeitos como faz o Tom Morello:

» Leia também: Tipos de pedais de efeito: conheça os mais importantes

Você já ouviu falar em “instrumento preparado”? 

Por exemplo, “Piano preparado” ou “Violão preparado”. 

Esse é um termo que se usa quando fazemos alguma alteração nas características naturais de um instrumento musical, como, por exemplo, colocar parafusos nas cordas de um piano para que quando tocado, o seu som seja diferente.

Enfim, se pergunte: “O que mais meu instrumento pode fazer?”

06 – Não tenha uma única referência

Se você é muito fã de uma pessoa e ouve essa pessoa falando diariamente, provavelmente começará a falar igual a ela. 

Conhece alguém assim? 

Sem perceber, a gente começa a imitar os trejeitos, a entonação da fala e assim vamos nos tornando uma cópia de outra pessoa.

Para evitarmos isso, é importante termos diferentes fontes de inspiração, e se possível, em diferentes estilos musicais. 

Isso também é algo fundamental para encontrarmos nossa identidade musical.

Conclusão

Criar uma identidade musical é algo que leva algum tempo. Mas ser uma cópia de outra pessoa, pode não ser o melhor caminho. Como músicos, podemos procurar deixar algum legado no nosso instrumento e sermos lembrados e celebrados pelo nosso som. 

Melhor ainda se for algo único e com IDENTIDADE!